terça-feira, 23 de outubro de 2007

Guerreira


Por vezes sinto-me guerreira, sinto que posso tudo, sinto que nada me vai deter, posso voar, ser anjo, ser deusa, tenho o mundo a meus pés e a coragem para seguir em frente contra tudo e contra todos.
Outras vezes, sou fraca, sinto que o mundo conspira contra mim, é a incertesa das incertesas, é um mar de angústia e dúvidas que me quebra e me desarma.

Isto leva-me a pensar, Qual o sentido das coisas? O que será que está certo? Será que vale a pena continuar?

O Amor é lindo e fortalece-nos, mas tem horas em que se assemelha a um mar, algo belo e caprichoso, algo que adoramos, mas que desde pequenos somos ensinados a respeitar. É uma entidade que tudo pode e que já defeniu o destino, de gente humilde, mas também de bravos e nobres exploradores. É algo que já foi desbravado, em tempos de descobertas, motivo de glórias e de derrotas, algo que na sua grandesa tem a capacidade de nos trazer a felicidade, e ao mesmo tempo de nos ceifar o destino com toda a sua imponência.

O Amor é assim:
Numa hora somos reis, noutra somos escravos.
Numa hora somos deuses, noutra somos crentes.

A vida, essa é assim, cheia de altos e baixos, por vezes condicionada pelo amor que nos move


(Xena)

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Imagino


Neste exacto momento
em que escrevo estas palavras,
é teu o meu pensamento,
embora tu não o saibas,
em que, num sorriso, recordo
o toque da tua pele
e imagino nos teus lábios
o mais puro e doce mel.

E imagino segredos
e histórias por revelar;
e com a ponta dos meus dedos
anseio em te tocar;
e num tom de voz baixinho
ao teu ouvido sussurrar,
enquanto te faço um carinho,
enquanto leio o teu olhar.

E, logo depois, lentamente
pegar na tua mão;
sentir nela, o teu corpo quente,
sentires nela o meu coração.

E depois suave e doce
afagar o teu cabelo,
como se um poema fosse,
como se pudesse eu escrevê-lo.

Imagino finalmente,
ou talvez seja um desejo,
abraçar-te ternamente,
enquanto provo o teu beijo.

(Xena)

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Eu sou a Concha das Praias


Eu sou a concha das praias
Que anda batida da onda
E, de vaga em outra vaga,
Não tem aonde se esconda.
Mas se um menino, da areia
A colher e a for guardar
No seio... ali adormece
E é ali seu descansar.
Pois sou a concha da praia
Que anda batida da onda...
Sê tu esse seio infante,
Aonde a triste se esconda!

Eu sou quem vaga perdido,
Sob o sol, com passo incerto,
Contando por suas dores
As areias do deserto.
Mas se um palmar, no horizonte,
Se vê, súbito, surgir,
Tem ali a tenda e a fonte
E é ali o seu dormir.
Pois sou quem vaga perdido,
Sob o sol, com passo incerto...
Sê tu sombra de palmeira,
Sê-me tenda no deserto!

Sou o peito sequioso
E o viúvo coração,
Que em vão chama, em vão procura
Outro peito, seu irmão.
Mas se avista, um dia, a alma
Por quem andou a chamar,
Tem ali ninho e ventura
E é ali o seu amar.
Pois sou quem anda chorando
À procura dum irmão...
Sê tu a alma que me fale,
Inda uma hora ao coração!
(Antero de Quental)

terça-feira, 19 de junho de 2007

Navio naufragado


Vinha de um mundo
Sonoro, nítido e denso.
E agora o mar o guarda no seu fundo
Silencioso e suspenso.



É um esqueleto branco o capitão,
Branco como as areias,
Tem duas conchas na mão
Tem algas em vez de veias
E uma medusa em vez de coração.



Em seu redor as grutas de mil cores
Tomam formas incertas quase ausentes
E a cor das águas toma a cor das flores
E os animais são mudos, transparentes.



E os corpos espalhados nas areias
Tremem à passagem das sereias,
As sereias leves dos cabelos roxos
Que têm olhos vagos e ausentes
E verdes como os olhos de videntes.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Recordo-te


Homem bravo, lider, soldado da paz, cheio de vida e de luz.
Enchias tudo por onde passavas com a tua constante vontade de brincar, com o teu sorriso.
Eu na minha inocência de criança veneráva-te, orgulhava-me de ti (ainda me orgulho).

Mais tarde veio a doença, que te prendeu os movimentos, fez de ti um homem frágil, de olhar perdido no vazio, aí eu já não era tão criança, a inocência já havia sido quebrada. Mas continuavas a ser o meu orgulho, sempre foste.

Todos viam como a doença te envelheceu, mas eu continuava a olhar para ti como um astro, altivo e luminoso, sim porque mesmo muito doente, mesmo de olhar triste perdido no vazio, tu marcavas a tua presença.

Aí de alguma das tuas meninas que entrasse em casa sem te comprimentar, era como um ritual, custou a desabituar quando partiste.

Demonstravas o teu carinho por nós de uma forma singular, assim como cada uma no seu lugar, não é que gostasses menos de alguma! Mas sim que a forma de o demonstrares era diferente, de tal forma que todas ficamos com pedacinhos teus, só nossos.

A Rita na tua doença foi o ai jesus, a tua maior preocupação, aquela a quem só conseguiste ver o rosto uma vez, num contraste entre luz e sombra que ajudou os teus olhos cansados e doentes.

Avô hoje é aniversário do teu nascimento, e embora à 10 anos não seja motivo de comemoração, é um dia sempre recordado com muito carinho, saudade e emoção, porque tu continuas aqui bem presente nos nossos corações.
(Xena)

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Saudade


- Bom dia Pai, como estás? Não respondes pai?
Faz neste instante cinco anos, que perante a mais crua e fria das realidades, foram as unicas palavras que consegui pronunciar.

Não gritei, nem chorei, apenas fiquei incrédula e queria a todo o custo uma resposta tua.

Insisti novamente.
- Pai por favor responde?
Mas cheguei tarde demais para obter qualquer resposta... O tempo já te tinha esfriado, os teus lábios não tinham cor, os teus olhos haviam perdido a expressão.

Mas porquê, meu deus? Porque teve que ser assim?

Naquele instante não gritei, mas hoje sinto um grito preso no meu peito, um grito de revolta.
Será que o meu destino era mesmo ser a ultima pessoa a fumar um cigarro na tua companhia?

Num dia em que não era previsto ir à tua casa, eu fui foi como se o destino me tivesse empurrado a ir lá. Para no fim do nosso cigarro, quando eu me preparava para ir embora, tu me pedires um abraço, foi um longo e terno abraço que sempre que me lembro é como se o sentisse outra vez, o nosso ultimo abraço, o ultimo beijo que te dei quando a tua face ainda era rubra, os teus lábios tinham cor, o teu olhar acusava uma alegria contagiante, como se estivesses a nascer de novo.

E era pai, era o teu renascer e o renascer de um relação cansada de desentendimentos que tivemos toda a vida.

Porque perdemos tantas horas com discussões, sem fundamento? Porque nos afastámos semanas a fio, apenas por orgulho? quando por vezes eu apenas queria dizer que tu eras o meu heroi, o meu idolo.

Porque me culpavas tu dos teus erros, quando eu te amava tanto.

Agora é tarde, tarde demais, mas eu sei que estejas onde estiveres, serás sempre o meu heroi.

Nunca vi a tua lápide, porque me angustia pensar que estás debaixo dela, mas a maior homenagem que te presto, é lembrar-te todos os dias da minha vida, tal e qual como se continuasses aqui.
(Xena)

terça-feira, 29 de maio de 2007

O velho moinho de vento


Aí estás tu
Velho moinho
Testemunha silenciosa e esquecida,
De tempos que já não voltam,
Passando despercebido
Aos olhares distraídos,
De quem todos os dias
Passa por ti indiferente

Conta-me velho moinho:
Quantas bocas a tua farinha alimentou?
Quantas vezes serviste
De inspiração para juras de amor eterno?
Quantos poetas escreveram
Na tua sombra?

Conta-me velho moinho:
Quanto tempo mais
Irás resistir ao despreso,
Daqueles que podia fazer algo,
Algo que mantivesse acesa
As memórias de outros tempos

Tempos em que ao sabor do vento
As tuas pás giravam,
Numa alegria de quem é importante,
Numa alegria de quem faz parte
De toda uma história,
Da minha bela cidade.
(Xena)

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Renascer



Ontem era anjo
De asa caída,
Eu queria voar
Mas sentia-me perdida.

Hoje sou pássaro,
Vejo-me a voar,
Pois sinto-me livre
Na imensidão do teu olhar.

Ontem era criança
Que vivia na escuridão,
Mulher mal amada
Que vivia na solidão.

Hoje sou deusa,
Sou musa inspiradora,
De um sentimento nobre
Que não conheci outrora.

Renasço em ti,
Como princesa enamorada,
Por experimentar a sensação
De saber que sou amada.

(Xena)

terça-feira, 22 de maio de 2007

Amor


"O Amor é um sentimento quase indefinível, pois não observa lógica nenhuma. De repente, sentimos que existe algo em alguém que nos atrai. Sentimo-nos bem apenas em pensar nesse alguém. E jamais conseguiremos saber o porque."

(Crisalis)

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Dragões na nossa vida


Todos os dragões da nossa vida são talvez princesas que esperam ver-nos um dia belos e corajosos. Todas as coisas aterradoras não são mais, talvez, do que coisas indefesas que esperam que as socorramos.
(Rilke)

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Encruzilhada


Tenho vaguedado perdida
Por uma estrada de solidão
Como uma deusa esquecida
Que perdeu o coração

Ao avistar uma pequena luz
Vi-me livre do meu tormento
Mas do passado voltaste
E lembraste o meu sofrimento

Hoje estou perdida
No meio da encruzilhada
Espero que um anjo me indique
Qual será a melhor estrada

Tanto que sonhei um sinal teu,
Mas porque decidiste voltar agora
Neste momento em que encontrei a luz
Que levará a solidão embora.
(Xena)

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Raio de Sol


Tenho diavagado distraida,
Em pensamentos,
sobre uma estrela perdida
Iludida no fundo de um vale
Pensei ver o sol

Mas eu estava a ver mal,
Eu estava encantada
Por uma luz artificial.

Com o nascer do novo dia,
O vale clareou,
E veio um raio de sol
Que a bela luz ofuscou.

Agora vejo com clareza,
Quanto de ingénua eu fui,
Por me ter encantado,
Por uma luz de tão fraca beleza.


(Xena)

quarta-feira, 9 de maio de 2007

A TUA VOZ NA PRIMAVERA


Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!


(Florbela Espanca)

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Ying-Yang

É na Luta entre o bem e o mal que se encontra o equilibrio.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Voz que se cala


Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.

Amo a hera que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.

Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino!

Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino! ...

(Florbela
Espanca)

segunda-feira, 30 de abril de 2007

O que há em mim é sobretudo cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.


A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto alguém.

Essas coisas todas

-Essas e o que faz falta nelas eternamente -;

Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço,

Cansaço.


Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada

-Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser...


E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...

Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço.

Íssimo, íssimo. íssimo,

Cansaço...


(Álvaro de Campos)

sábado, 28 de abril de 2007

O Amor


Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns
segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você esta esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d`água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça. Deus te mandou um presente divino: o amor.
Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.
Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu um a rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enchuga-las com ternura, que coisa maravilhosa:
você poderá contar com ela em qualquer momento da sua vida.
Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela tivesse ali do seu lado...
Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijama velho,chinelos de dedo e cabelos emaranhados...
Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...
Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...
Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...
Se você preferir morrer, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.
É uma dádiva.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Ou ás vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. Por isso, preste atenção nos sinais não deixe que as loucuras do dia -a -dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR

(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 26 de abril de 2007

A Estrela


Do alto do meu castelo de sonhos
Vislumbro a mais bela estrela,
Ela é linda e brilhante,
Ela ofusca-me com a sua luz,
Adoro-a simplesmente porque a adoro
Não vejo a sua essencia,
É que a sua luz não me permite.

Num salto tento agarrá-la,
Mas está alto de mais
Choro então em silêncio
A vontade de a ter,
De pega-la na palma da minha mão
E poder dizer-lhe que a adoro.

Mas ela é linda lá no ceu,
Lá onde eu não a consigo alcançar,
Lá onde apenas os meus sonhos me levam

(Xena)

quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril




Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo



(Sophia de Mello Breyner Andresen)

terça-feira, 24 de abril de 2007

As Amoras


O meu país sabe as amoras bravas

no verão.

Ninguém ignora que não é grande,

nem inteligente, nem elegante o meu país,

mas tem esta voz doce

de quem acorda cedo para cantar nas silvas.

Raramente falei do meu país, talvez

nem goste dele, mas quando um amigo

me traz amoras bravas

os seus muros parecem-me brancos,

reparo que também no meu país o céu é azul.


(Sophia de Mello Breyner Andresen)

segunda-feira, 23 de abril de 2007

O menino de sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece")
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.

(Fernando Pessoa)

Não tenho por costume comentar os poemas que aqui coloco, mas este hoje é diferente, porque é o Dia Mundial Do Livro, com tal, não pude deixar de postar um poema daquele que na minha opinião foi, é e continuará a ser um dos maiores génios da Literatura Portuguesa, o grande Fernando Pessoa.

A razão de ser este poema e não outro, transporta-me ao meu 8ºAno de escola, ano em que pela primeira vêz tive contacto com o trabalho deste poeta, e este foi o poema estudado. A minha professora de português desse ano, era alucinada por tudo o que fosse obra, que de alguma forma, referisse o cenário de guerra e o impacto social e familiar por ela causado, dessa forma conseguiu-nos cativar e desafiar a perceber o que o poeta diz nas entrelinhas de tudo o que escreveu.

Sim ! Porque não somos nós que lemos o poema, o poema é que nos envolve e nos absorve, e só quem o entende dessa forma consegue tirar a melhor interpretação do que está escrito.




quinta-feira, 19 de abril de 2007

Sorver a vida


Eu quero amar, viver sofregamente

Num desejo bem louco e incontido!

Amar a vida, os astros, toda a gente!

Encontrar o meu sonho já perdido...


E sorver desvairada o sol poente

Num lampejo de eterno enlouquecido!

Acompanhada, ou só, é-me indiferente...

Mas, num cruzar de horas conseguido!


Respirar bem fundo e sorver a vida!

Alcançar uma íngreme subida,

Libertar o arfar do coração!


Atingir nas alturas o luar,

O loiro do sol e o teu acenar

E voltar a sentir o que é paixão!!!


(Natividade Negreiros)

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Passa por mim uma borboleta


Passa uma borboleta por diante de mim

E pela primeira vez no Universo eu reparo

Que as borboletas não têm cor nem movimento,

Assim como as flores não têm perfume nem cor.

A cor é que tem cor nas asas da borboleta,

No movimento da borboleta o movimento é que se move,

O perfume é que tem perfume no perfume da flor.

A borboleta é apenas borboleta

E a flor é apenas flor.


(Alberto Caeiro - Fernando Pessoa)

terça-feira, 17 de abril de 2007

Queima o sangue um fogo de desejo


Queima o sangue um fogo de desejo,
De desejo a alma é ferida,
Da-me os teus labios:
O teu beijo
E o meu vinho e a minha mirra.
Reclina a cabeça
Ternamente, faz que eu durma
Sereno ate que sopre um dia alegre
E se dissipe a nevoa nocturna

(Alexander Puchkin)

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Na Ponta da Lua

Aqui...

Sentada

Na ponta da lua

Viajo no tempo

Que ainda não vivi...

Desejos que me assaltam

De uma vida

Que me sorri...

As estrelas

São testemunha

Dos sonhos que me embalam

A brisa...

Afaga-me o rosto

Num momento de magia...

Tantas vezes imaginado

Num cenário de ternura

Quando me sento
Aqui...

Na ponta da lua

(Xena)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Para quê complicar?


Não precisas de presentes
Nem rimas, nem flores, nem nada
Basta trazeres o que sentes
E chegares de madrugada

Perde as mãos pelo meu corpo
Faz-me calar com um beijo
Como se eu fosse o teu porto
E tu meu mar de desejo

Deixa falar a paixão
Não faças juras de amor
É só carinho e tesão
Suor, gemidos, calor
Enrosca-te no meu seio
Os corações a bater
Sem confusão, sem rodeio
Mais simples não pode ser.

(Xena)

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Poema Mulher


O poema

é como um corpo

de mulher.

Há-de ser suave,

leve, belo.

Há-de possuir

pontos sensíveis,

em que um simples toque

o faça vibrar.

Há-de ser forte

e delicado,

flexível,

mas inquebrável.

Para alguns é impenetrável.

Para alguém especial,

é aberto, transparente, claro.


( Aníbal Albuquerque )

quarta-feira, 11 de abril de 2007

A Fonte


Com voz nascente a fonte nos convida
A renascermos incessantemente
Na luz do antigo sol nu e recente
E no sussurro da noite primitiva.


(Sophia de Mello Breyner)

terça-feira, 10 de abril de 2007

Quando eu nasci


Quando eu nasci,

Ficou tudo como estava.


Nem homens cortaram veias,

Nem o Sol escureceu,

Nem houve Estrelas a mais...

Somente,

Esquecida das dores,

A minha Mãe sorriu e agradeceu.


Quando eu nasci,

Não houve nada de novo

Senão eu.

As nuvens não se espantaram,

Não enlouqueceu ninguém...


P'ra que o dia fosse enorme,

Bastava

Toda a ternura que olhava

Nos olhos de minha Mãe...


(Sebastião da Gama)
Neste dia tão especial, que é o aniversário da minha mãe, não podia deixar de lhe prestar esta singela homenagem.
Parabéns mãe e obrigado por nos brindares com a tua força

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Recado


Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor

As Sem-Razões do Amor
Carlos Drummond de Andrade

sábado, 31 de março de 2007

É a Vida


É uma escada em caracol
e que não tem corrimão.
Vai a caminho do Sol
mas nunca passa do chão.

Os degraus, quanto mais altos,
mais estragados estão.
Nem sustos nem sobressaltos
Servem sequer de lição.

Quem tem medo não a sobe.
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
O lastro do coração.

Sobe-se numa corrida .
Correm-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
a escada sem corrimão.


(Alexandre O'Neill)

sexta-feira, 30 de março de 2007

A Espantosa Realidade das Coisas

A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

(Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.)

quinta-feira, 29 de março de 2007

Noite


Deito-me!
O corpo cansado
Procura o carinho
Deseja o afago.

Fecho os olhos
Imagino-te!
Nesse momento
Quero-te!
A mim entrelaçado
Teu corpo no meu
(juntinhos, colados).

Desejo-te!
No encanto do beijo
Na ternura do abraço
Unidos
Corpos e almas
Num só querer
O amor e o prazer.

Na visão da tua imagem
Cansada adormeço
No calor deste leito
Em que me deito.
(Xena)

quarta-feira, 28 de março de 2007

Frémito do meu corpo...


Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...


(Florbela Espanca)

terça-feira, 27 de março de 2007

Horas Rubras



Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...


Oiço as olaias rindo desgrenhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas...


Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...


Sou chama e neve branca e misteriosa...
E sou, talvez, na noite volumptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

(Florbela Espanca)

segunda-feira, 26 de março de 2007

Livro dos sonhos


Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)