segunda-feira, 23 de abril de 2007

O menino de sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece")
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.

(Fernando Pessoa)

Não tenho por costume comentar os poemas que aqui coloco, mas este hoje é diferente, porque é o Dia Mundial Do Livro, com tal, não pude deixar de postar um poema daquele que na minha opinião foi, é e continuará a ser um dos maiores génios da Literatura Portuguesa, o grande Fernando Pessoa.

A razão de ser este poema e não outro, transporta-me ao meu 8ºAno de escola, ano em que pela primeira vêz tive contacto com o trabalho deste poeta, e este foi o poema estudado. A minha professora de português desse ano, era alucinada por tudo o que fosse obra, que de alguma forma, referisse o cenário de guerra e o impacto social e familiar por ela causado, dessa forma conseguiu-nos cativar e desafiar a perceber o que o poeta diz nas entrelinhas de tudo o que escreveu.

Sim ! Porque não somos nós que lemos o poema, o poema é que nos envolve e nos absorve, e só quem o entende dessa forma consegue tirar a melhor interpretação do que está escrito.




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